Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Ele nasceu em Recife, numa quinta-feira, 22 de janeiro de 1942. Iniciou a carreira de jogador aos 17 anos, no Íbis, time de Pernambuco que se autointitula o pior do mundo. Quiseram os deuses do futebol, entretanto, que aos 25 anos, já consagrado como um dos melhores laterais-esquerdos do País, Rildo da Costa Menezes viesse jogar no Santos, o melhor time que já pisou em um campo de futebol.
Hoje vivendo em Los Angeles, Estados Unidos, onde leva uma vida sem sobressaltos com a mulher, Tereza, duas filhas e duas netas, Rildo se recorda de como veio para o Santos:
“Quanto estávamos na Inglaterra, para a Copa de 1966, o Pelé me disse que o Santos tinha interesse de me contratar. ‘Já contrataram o Carlos Alberto Torres, agora querem ter os dois melhores laterais do Brasil’, ele disse. Na volta, foi o que aconteceu. Fiquei cinco anos no Santos.”
A Copa da Inglaterra não foi boa para o Brasil, que acabou eliminado na fase de grupos ao perder para a Hungria e para Portugal, nas duas vezes por 3 a 1. Mas Rildo não acredita que o fracasso da Seleção tenha atrapalhado sua carreira:
“Fomos eliminados com a derrota para Portugal, mas fui considerado um dos melhores em campo e também um dos melhores laterais-esquerdos da Copa. No gol contra os portugueses, o Pelé me passou, mas estava machucado (a regra não permitia a substituição) e fez o sinal para que eu não lhe devolvesse a bola. Então, consegui achar uma brecha e bati com três dedos. Ela entrou no cantinho.”
De volta ao Brasil, a previsão de Pelé se cumpriu. Contratado pelo Santos, que precisava manter um elenco de astros para suas excursões internacionais, Rildo estreou no Alvinegro Praiano em 15 de janeiro de 1967, num amistoso contra a Seleção de Mar del Plata, na Argentina. O Santos ganhou por 4 a 1 e o estreante marcou o terceiro gol santista, aos 25 minutos do segundo tempo.
Firme na marcação, o lateral de 1,73m, corpo magro mas atlético, tinha um drible característico que levantava a torcida: girava em torno do adversário com a bola rente ao pé e saía livre mais à frente, para o aplauso do torcedor. Rildo participou de 325 jogos pelo Alvinegro Praiano. Enquanto jogou no Santos, foi titular absoluto, mantendo o status que já tinha adquirido no Botafogo do Rio e na Seleção Brasileira.
Depois do Íbis, ele teve uma rápida passagem pelo Sport e, ao se mudar para o Rio de Janeiro, fez um teste no Botafogo e lá ficou de 1961 a 1966, jogando ao lado dos seus ídolos Garrincha e Nilton Santos. A oportunidade entre os titulares surgiu quando Nilton Santos passou a atuar como zagueiro, deixando a lateral esquerda livre.
No Botafogo ele foi bicampeão carioca em 1961 e 1962 e ganhou os Torneios Rio-São Paulo de 1962 e 1964, mas seus títulos mais importantes vieram no Santos: campeão brasileiro em 1968 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa), da Recopa Mundial e da Recopa Sul-americana de 1968 e tricampeão paulista em 1967/68/69.
“Fiz grandes jogos no Santos, mas uma partida importante da qual eu me lembro foi a final do Campeonato Paulista de 1967, contra o São Paulo. Eles tinham um bom ponta-direita (Valter), mas eu marquei bem ele. Ganhamos por 2 a 1 e fomos campeões.”
Uma mágoa: não ter jogado a Copa do México
De 1963 a 1969 Rildo fez 49 jogos pela Seleção Brasileira. Titular em todos os seis jogos das Eliminatórias para a Copa do México, ao lado dos defensores santistas Carlos Alberto, Djalma Dias e Joel Camargo, Rildo queria muito ir para o México e não se conformou com o seu corte:
“Fui convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira em 1962, com 19 anos. Depois joguei a Copa da Inglaterra e as Eliminatórias para a Copa do México. Não entendi porque fui cortado. Alegaram que eu tinha um problema no coração. Mas jogo pelada até hoje e nunca senti nada.”
Depois do Santos, Rildo teve uma passagem pelo Ceub, de Brasília; pelo ABC, de Natal, e jogou também em um time modesto da França. Sua carreira, enfim, estava em declínio, quando Pelé surgiu novamente para lhe dar um novo alento:
“Fiquei oito meses em um time da segunda divisão da França. Em 1977 eu estava no Rio e fui dar uma entrevista no Hotel Internacional, na Barra. O Pelé estava lá e me convidou para ir para o Cosmos. Acabei me mudando para os Estados Unidos.”
Depois de defender o New York Cosmos em 1977, Rildo passou para o California Lazers em 1978, California Sun em 1979 e Cleveland Cobras em 1980, pela qual encerrou a carreira, aos 38 anos. Ainda trabalhou como técnico de 1990 a 1995, dirigindo, sucessivamente, o California Emperors, o Los Angeles Salsa e o San Fernando Valley.
Bem estabelecido nos Estados Unidos, Rildo não pensa em sair de Los Angeles, onde gasta o tempo livre com a família, recebendo amigos ou pescando. Não faltam lembranças. Afinal, não é qualquer jogador que começa jogando no pior time do mundo e acaba no melhor.