No dia 27 de outubro de 1934, nascia em Santos, Paulo César de Araújo, o Pagão, eleito por Coutinho como sendo o melhor centroavante que já vestiu a camisa nove do ataque santista. Pagão jogou no Alvinegro Praiano 345 partidas e marcou 157 gols no período de 1955 a 1963 e é o nono artilheiro do Peixe.
Transcrevemos abaixo um texto do brilhante radialista Walter Dias, numa entrevista na qual ele demonstra sua admiração sobre o inesquecível craque santista:
“Para mim, claro que excluindo Pelé, o maior futebolista é Pagão, ou, se o quiserem, foi Pagão. Classe como a dele, sutileza como a dele, leveza e graciosidade como a dele, nem Pelé. O “Rei” possui mil qualidades, que Pagão não as tem, mas em matéria de futebol ritmo, de futebol enredo, de futebol arte, nisso, nesses detalhes, o “Rei” teria de fazer uma porção de continências ao gênio criador de Paulo César de Araújo. Se houvesse uma Academia de Futebol, a cadeira de ‘Estilo” teria de ser regida por Pagão. O Pelé tem uma porção de estilos juntos, todos eles magníficos, que empolgam pelas sucessivas mudanças, confundindo o adversário, aturdindo o antagonista. Só o Pagão tinha a característica do bailarino clássico, encantando pela fineza nos lances que compunha. Mas não era só beleza o que se continha no futebol de Pagão, porque havia, também a positividade que os astros consumados sabem imprimir às suas jogadas. Os 159 gols que Pagão obteve para o Santos FC, são uma prova eloquente de sua objetividade. Nada tinha de “sassarico” o modo de atuar do grande estilista. Suas fintas, perfeitas em todos os detalhes, possuíam, sempre, um notável sentido construtivo porque eram feitas, sempre, em profundidade. Suas negaças desconcertantes, não só entusiasmavam as plateias como, sobretudo, faziam abrir claros enormes nas áreas inimigas, pois onde ele penetrava antes de armar o disparo fatal. Seus passes, feitos a compasso, eram meio gols. E o próprio Pelé muitas vezes se lambuzou nas geleias que o Pagão preparava. Mas o traço predominante na individualidade do futebolista Pagão era a completa ausência de egoísmo, trabalhava para o quadro, jamais para ele mesmo. Um companheiro melhor colocado nunca deixou de ser servido pela bola que ele tinha os pés. E Pacaembu, e Maracanã e Morumbi, muitas e muitas vezes se desmancharam em aplausos, ao verem Pagão anotar gols que imortalizaram na retina de quem os contemplou, que se cristalizaram nas páginas de jornais, que se eternizaram na retenção dos videotapes. A grande arma de Pagão era a fragilidade, mas essa arma às vezes se voltava contra ele, fazendo-o contundir-se e afastar-se dos treinos, e dos jogos. Não fosse isso, e Paulo César de Araújo o magistral Pagão, teria sido sem dúvida alguma, o maior dianteiro do mundo”.
Guilherme Guarche – Coordenador do Centro de Memória e Estatística