Raul Estevan, do Memorial das Conquistas
No dia 14 de abril de 1912 fazia-se o Santos Futebol Clube. A iniciativa surgiu de três rapazes: Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior, e assim o rumo de milhões seria alterado. Em um glorioso domingo, reuniram pessoas interessadas no extinto Clube Concórdia, e então fundaram um clube a fim de praticar o novo esporte. Presentes no momento, contava-se 39 pessoas. Entre eles, jovens e comerciantes da cidade. Hoje, devemos grande parte de nós aos envolvidos.
Mas uma história dessas não se escreve com tão pouca tinta. Precisou de mais gente, mais vidas. Tudo a favor dessa linda causa. Na sala com os 39, a sugestão inicial para o nosso nome foi “África”. A segunda, “Brasil”. Ambos acabaram não encantando os olhos da moçada. A terceira foi “Concórdia”, mas parecia muito óbvia a homenagem ao clube em que ocorria a reunião — também não poderia ser. E então, no fundo da sala, um rapaz chamado Edmundo Jorge de Araújo grita: Santos Futebol Clube. Bonito, direto e com aspecto de grandeza.
Foi dia quatorze de abril, ano 1912, por volta das duas da tarde. Um momento tão ínfimo para o que viria a ser o colossal Alvinegro Praiano. A salva de palmas que sucedeu a escolha de nosso nome esbanjava a certeza do que já estava concretizado; tomando a voz, Raymundo conta: “Meus senhores, acaba de ser fundado o Santos Futebol Clube”. Aos primeiros trinta e nove daquele domingo, a eterna gratidão — criaram algo que nunca morrerá. Hoje, comemoramos em mais. Muito mais.
São inúmeros os órgãos que compõem essa ideia imortal. Tentar definir cada lugar, pessoa e evento que nos construiu seria em vão, pois grandes ideias se sobressaem a tudo. Seja nas vitórias, ou nas derrotas. Mas o momento pede que nos lembremos do que temos. Mais ainda, do que somos. E, de cabeça erguida, que olhemos para trás a fim de buscar o que vem pela frente. Assim, com orgulho de ser santista, será possível ter gratidão à nossa singular jornada.
À nossa casa, presente desde o dia 12 de outubro de 1916, muito obrigado. Para sempre o local onde a história foi feita, o Estádio Urbano Caldeira acumula lembranças em nossas memórias. Sem ele, poderia existir Santos; mas nada seria igual. Não teria a mesma graça. O alçapão, melhor amigo do Alvinegro Praiano, é especial para todos nós. E um clube do tamanho do Santos precisou de uma casa de peso como a Vila Belmiro. De 112 anos, 108 foram ao seu lado. Se hoje chegamos até aqui, não podemos deixar de agradecer a ela.
À cidade, que acolheu e se transformou em uma só com o clube, um abraço. Santos é dona do maior porto da América Latina. E isso não é pouca coisa! Mas é a casa também de algo maior. De tamanho imensurável. Do primeiro Campeonato Paulista até hoje, a cidade canta e vibra em uníssono com o clube praiano. São poucos os grandes que possuem tamanha identificação com sua cidade, e a familiaridade não é só de nome. Nós somos o Santos, de Santos. E o orgulho é desmedido.
Para todos os inúmeros talentos que brilharam por nós: tem sido um prazer vê-los jogar. De Arnaldo Silveira a Araken, de Feitiço a Antoninho. Odair, Pagão, Toninho Guerreiro. Os titânicos Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe. Do lado de dentro do campo, nas quatro linhas, são esses que escreveram a história. Giovanni, Leo, Elano, Neymar. Jogadores que, com a bola no pé, mostraram do que essa camisa é capaz. Cada raio, cada estrela — o tamanho do Santos passa por todos que vestiram o Manto Sagrado.
Ao Rei! Uma entidade absoluta do futebol mundial. Reconhecida em todos os cantos do mundo. Nos livros de história, para sempre falarão daquele que parou uma guerra. É o que desafia as barreiras do inacreditável. Com o passar dos anos, as barreiras do tempo. Se opõe a tudo e a todos para, cada vez mais, se tornar grande. Tudo isso é Santos. Tudo isso é Pelé. Às vezes é difícil entender nosso indivisível, atômico tamanho. Todavia, a história foi feita de uma só maneira, com um só Rei vestindo uma mesma camisa dez branca. Nunca esqueçamos.
E a nós mesmos. Nesse momento, que relembremos o nosso papel nessa história. Somos os filhos, pais e também avós santistas. As crianças que choraram em 1984, 2002 e em 2011. Um dia, os futuros santistas verão outras glórias, e nós seremos os que vimos o ontem. Se bem sortudos, não sofrerão o que sofremos, mas gritarão. Hão de chorar, se emocionar e viver tudo como vivemos. De geração a geração, estaremos aqui. Sendo felizes, às vezes tristes, mas sempre Santos. Onde e como ele estiver.
Em um piscar de olhos, esse amanhã chegará. E não estaremos aqui para vê-lo. Mas no amanhã há de haver Santos, pois o tempo não pode vencer o que nasceu para ser eterno. E para as muitas histórias do futuro, que essa camisa continue nos apaixonando. Hoje, todos nós comemoramos juntos, na celebração do que há de mais bonito nesse esporte. Parabéns a tudo que é Santos. Parabéns ao Santos Futebol Clube por seus 112 anos.